26 julho 2010

Conto: A Luz Azul - Parte 1




Autor: Mário Jr.

Não é de se estranhar receber convites, esses que as pessoas enviam para algo ser feito. Recordo-me como se ainda vivesse aquele pesadelo, numa tarde de sexta-feira, quando, dormindo, vi um carteiro – de aparência jovem – usando uma vestimenta, dessas que as pessoas que trabalham nesse ramo usam, parecida com um terno. O terno era a princípio normal – sem vestígios que pudessem fazer-me crer que algo de estranho e inusitado ocorria ali; entretanto, no momento em que olhei para os sapatos, desse tal moço, vi que estavam com uma coloração verde-lodo. Ainda assim, não via nada digno de espanto.

O carteiro entregava-me um envelope de tamanho médio, com uma cor, muito peculiar, igual a das briófitas. Estávamos sob uma grande neblina, a qual nos indicava que aquele local era silente e soturno; a face daquele moço, então, começou a reluzir um brilho insólito, azul, extremamente intenso e fulgurante, que meus olhos não puderam suportar, começando a arder. Em seguida tomada por aquela luz, sua face começou a esfacelar-se, até que, não pude mais vê-la. A partir daquele momento, noticiei que seus braços começaram a tremeluzir – como suas pernas – e num instante, os vi desaparecer. O que antes era um homem em seu posto, exatamente naquela hora era apenas um uniforme com a ausência de um corpo, que noutro instante tinha sido carcomido pela luz, que antes me alegrava – pelo motivo do localizar-me num lugar lúgubre e um tanto inefável – naquele somniu incitava o nascimento de um sentimento medonho dentro de mim.

De repente, enquanto vivenciava os horrores daquele pesadelo, ouvi um som produzido por uma onomatopéia – desse quando alguém bate na porta. Era Madame Rosé, desse modo que ela nos permitia chamá-la, tirando-me daquele mundo virtual e trazendo-me ao real. Ela dizia ter em mãos, um envelope endereçado a mim e que acabava de ser entregue pelo carteiro setorial.

Antes de abrir a porta, deslizei-me pela cama em que estava e espiei pela janela um carteiro a pé, dirigindo-se à casa vizinha. Não consegui ver suas pernas, seu cabelo e muito menos sua face; as únicas coisas que consegui ver foram suas mãos e seus sapatos. Estes fisgaram completamente a minha atenção para as suas partes exteriores e inferiores. As partes continham resíduos sem muita descrição de uma cor que enxergamos nas calçadas lamacentas; meu coração foi a mil, naquele instante.

Com um berro da Madame, que de madame só tinha o nome, corri e abri, para pegar o envelope. Com um fôlego não muito estável, abri a porta, girando a maçaneta vagarosamente para a esquerda. A dona da pensão, que num golpe só, lançou o envelope em mim e depois se virou dizendo em voz alta coisas que nem pude compreender. O envelope bateu-se contra meu peito e caiu no chão; visualizei-o como momentos atrás naquele sonho que eu poderia ter esquecido, mas não consegui. A única coisa que consegui, foi fitá-lo por horas a fio e simplesmente deixar-me ser levado pelos meus próprios devaneios.

Após um período insano de observar aquilo que recebi, cuidadosamente coloquei-o em cima da escrivaninha e o contemplei mais uma vez, sem ao menos ter a coragem de ler seu remetente. Mais tarde, quando destituído de medo e cheio de coragem, espiei o remetente e surpreendi-me completamente: era a Família Buller.

A Família Buller tinha uma tradição hereditária de cultuar a tourada na Espanha, pois Lady Émille, mulher de um grande cientista chamado Lord Roger, era bisneta do grande toureiro espanhol Ramón Soares, que já não tinha uma presença viva na família, a não ser pela memória. Anny e Edward eram irmãos e filhos da Lady e do Lord; fato curioso, era que os dois irmãos eram gêmeos bivitelinos, nascidos em vinte e cinco de setembro de mil oitocentos e cinqüenta e três – Anny era a mais velha.

Com uma imensa satisfação que eu sentia, pude abrir o envio daquela família a qual eu conhecera na infância, tendo me tornado um grande amigo de seus membros, principalmente de Edward, já que ele e eu estudamos no mesmo colégio.

Dentro daquele envelope que dantes temível, ali abraçável, pude ler o seguinte:


“Caro amigo Roni, é com imensa saudade eternecida no seio dessa família que tanto lhe aprecia, que lhe enviamos este envelope, suplicando a sua vinda para o nosso humilde lar. Todos nós gostaríamos de revê-lo Roni, pois faz um lustro que não nos vemos, e isso é um tempo muito grande para bons amigos ficarem sem se comunicar tatilmente, não concordas? Enfim, gostaríamos que você passasse uma temporada conosco, pois não queremos nos desvencilhar de uma amizade tão magnânima e célebre para nós. O endereço está no exterior do envelope – no remetente. Aguardamos ansiosamente sua chegada.”

Abraços da Família Buller.


Infelizmente, o dia da escrita ou do envio devo omiti-los, porque minha memória não permite que eu os recorde. Contudo, ao término da leitura daquele escrito, caí sobre a cama com extrema alegria; ri por vários minutos e se alguém me visse naquele estado, logo pensaria que eu estivesse louco. Interrompendo meu riso desguiado, Madame Rosé chamou-me para o jantar. Desci a escada daquela antiga pensão. A cada degrau que eu pisava enquanto descia, ouvia-se um som diferente oriundo da madeira; os sons eram rangidos sofridos, como se aquela velha escada pudesse sofrer com o impacto dos meus pés sobre ela.

Ao redor da mesa estavam todos que ali moravam, principalmente Madame Rosé, que naquele momento, de alguma forma, me fizera perceber que seus olhos combinavam-se numa mistura de cores iguais e tonalidades quase imperceptíveis; seus olhos eram verdes banhados com extrema intensidade. Os brincos que ela possuía tilintavam cada qual com os seus adereços e por sua vez continham uma cor que parecia começar-se com azul terminar-se em verde; mas isso não posso afirmar com plena exatidão.

Passado o jantar, subi aqueles degraus e direcionei-me ao quarto. A luz formava uma sombra enorme naquela parede verde com rachaduras espessas, as quais me indicavam a idade daquele ambiente. Já deitado sobre a cama e prestes a dormir, noticiei que o teto continha uma estranha combinação muito minuciosa de imagens, que só aqueles indivíduos especializados poderiam vê-las. As imagens formavam um olho enorme aberto e outro fechado – um cheio de vida e o outro cheio de dor. A cor deles quase indecifrável: iniciava-se em azul e se acabava em um negro muito intenso. Contudo, o fato mais estranho que pude ver foi o olho dilatar sua pupila como se quisesse enxergar alo além de seu alcance – algo muito minúsculo ou distante. A única coisa que pude fazer naquele momento foi deitar-me de perfil ao teto e de fronte para a parede cerrei meus olhos, uma que vez que ousavam me mostrar coisas que não almejava ver.

No outro dia, acordei com um canto de um pássaro agradável. Entretanto, quando pude aguçar minha audição para ouvi-lo melhor, apareceu-me do nada, um pássaro de porte pequeno usando uma plumagem negra com bicos finos e interrompeu o som que eu ouvia atacando o pássaro com um golpe na cabeça. Pôs-se a entoar um canto horripilante, mórbido e com som pausado, enquanto o outro caia jorrando sangue pela cabeça, no local

3 comentários:

  1. ''Olá Diogo!

    Estou Passando para deixar, minhas solicitações de agradecimento
    pela sua estimavel visita ao meu blogs e agradecê-lo tambem
    pelas palavras gentis deixadas no comentario. E por esta a seguir
    meu blogs! Fica muito feliz em te ver por lá,e espero que ajá sempre
    algo que seja do seu interece! agradeço de coração por esta divulgando
    o meu blogs, em sua pagina! Muito obrigado. Que deus te dê muitas
    felicidades! em agradecimento, adicionei o seu link tambem na minha
    pagina ok. E tambem quero parabenizar a sua emcantadora pagina,
    recheada de muito bom gasto e requintes parabens!

    Desejo, ainda, uma terça feira abençoada repleta de Luz, Paz e Amor!

    Deixo um caloroso abraço fraterno!

    Ademir Alves

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  2. Muito obrigado amigo! Fico feliz em fazer parte dessa interação literária que nos une...

    Abraços fraternos!

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  3. É como diz Aline da Cidade das Pirâmides, “A vida é como o mar, hora manso, hora de ressaca, perigoso, mas lindo em suas manifestações”. “O auto-conhecimento desperta a nossa consciência”.”A consciência desperta nos leva a sabedoria de sermos senhores apenas de nosso universo” Veja o programa www.deolhonomundo.com você irá gostar muito! Abraços.

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