25 julho 2010

A Minha Morte




Autor: Mário Jr.

Eu posso morrer!
Meus pés vão parar,
E minhas mãos não mais escrever

Os meus olhos amigos,
Em luto a mim mesmo, vão se encerrar
E nunca mais vão querer observar
O nada e o mais nada

Perderei os movimentos dos dedos
Tanto das mãos calejadas
Quanto do pés enginhados
Pelo choque térmico da vida:
Ora quente ora fria.

Minhas dobradiças não terão mais vigor
Permanecerão inúteis, frágeis e mudas
Meu pêlo sem brilho, sem tônus, sem lustre
Jazerá sem a inveja que dele tinham

Perco isso,
Perco aquilo,
Mas não perco tudo!

Não perco a força do meu lábio
Da união entre os dentes e a língua
Para gerarem o meu som
A minha voz nunca morre
Nada conseguirá morrê-la

Ecoa por todos os lados
É reiterada,
Ressignificada e
Reinscrita
Nas paredes rochosas
Que são arranhadas pela força bruta
Da vida

Meu brado jamais esvanecerá
Minha voz nunca poderá morrer
É infinita e constante;
Ousada,
desdiz o a indecência da física
E a petulância da biologia.
A minha voz se recria

É passada como um bastão
Não pela mão,
Mas pela astúcia da boca

Boca fina
Boca seca
Boca miúda
Boca preta e cinza
Boca!

Eu posso até morrer,
Mas o meu grito não!
O meu brado possui escudo e possui brasão
Atravessa os céus e se arrasta pelo chão

Posso morrer
Pois minha carne é frágil e podre
Posso morrer,
Mas minha voz nunca conseguirá deixar de viver




A minha morte

Nenhum comentário:

Postar um comentário