17 novembro 2016

O QUE NÓS SOMOS, AFINAL?!


Não é uma tarefa fácil manter uma relação com alguém, principalmente quando uma das partes não sabe bem o que quer. Soma-se a isso a inexistência de uma nomenclatura para o que se vive. Numa era em que o "ficar" determina as relações, palavras como namorar, noivar, ou casar tornaram-se obsoletas para as novas gerações. Isto porque, elas carregam em si um temor que afugenta um dos pares, quando não a ambos, de um relacionamento mais sério. Ao invés disso, "fica-se" com um, ou com vários, muitas vezes durante anos, para fugir não só de firmar um compromisso, como também da chance de amadurecimento mútuo entre o casal. O reflexo disso é visto na brevidade dos atuais relacionamentos.
A princípio, muitos desses casais vivem relações inomináveis: não são amigos nem namorados, muito menos noivos ou perto do matrimônio. São pessoas "livres" de rótulos que se encontram em momentos oportunos para se satisfazerem e, feito isso, voltarem a suas vidas normais. Entretanto, possuem comportamentos comuns a de muitos casais: saem para comer, vão ao cinema, as vezes dormem e acordam juntos, mudam o status da rede social para "em um relacionamento", são apresentados aos amigos, vivem grudados e/ou se comunicam constantemente... Porém, mesmo com todas essas características, recusam-se a categorizar o que vivem.
Sem dúvidas, tal postura é fruto do fenômeno "ficar", que por si só demonstra total desapego ao compromisso. É o aqui e o agora valorizados acima do amanhã e do depois. O prazer imediato substituindo outros sentimentos e valores. Com isso, muitas pessoas aprenderam a tratar as outras como meros objetos de desejo momentâneo, que podem ser usadas e descartadas quando convém. Do outro lado, consciente disso ou não, há quem se submeta a essa realidade da qual o ser humano é o prato principal do prazer alheio. Neste self-service, bocas, bundas e genitálias são as partes mais nobres do cardápio. Porém, só um dos dois sai completamente saciado de tal "banquete".
Desta lógica, beija-se muito, transa-se mais ainda, mas não é colocado em pauta nominar a relação. São pessoas que estão juntas, mas não se conhecem. São lábios que se tocam mesmo sem vontade. São corpos entregues ao orgasmo trivial. São relações sem relações. Porém, quando uma das partes toma a iniciativa para resolver a situação nem sempre é bem sucedida. Encontra recusa, desculpa, bloqueio, desinteresse. O outro, geralmente numa zona defensiva, dizendo: "Pra que mudar?! Não está bom assim desse jeito?!" E o embate começa. Um diz que sente algo mais, o outro diz que é só amizade; um quer namorar, o outro só ficar; uma não quer esperar para noivar, o outro nem sequer pensa em casar.
Entretanto, é preciso pontuar que muitas dessas "relações" já surgem sem definição. Pessoas que se unem com alguém por puro interesse; relacionamentos arranjados; paixões proibidas por n fatores; relações às escondidas; e a comum infidelidade entre os casais complementam esse panorama. Quando não iniciam de uma daquelas maneiras, os romances começam da pior forma de todas, sem amor. Falta de amor esta que pode ser traduzida por interesse e respeito. Sem ambos, que são fundamentais para qualquer relacionamento, possivelmente nenhum convívio entre duas pessoas durará por muito tempo. Quando dura é cercado por desrespeito e violências das mais diversas, a Lei Maria da Penha está aí para comprovar isso.
O que não é surpresa para ninguém é a onda litigiosa que tem assolado as relações na atualidade. São relacionamentos que se iniciam em uma semana e terminam dias depois; promessas de noivados que não se cumprem ou noivados que duram uma eternidade e que não se concretizam em matrimônios; casamentos aparentemente perfeitos de poucos ou muitos anos que chegam ao fim e se tornam tema de especulação alheia. Tudo isso fruto de uma sociedade "que pega e não se apega" e que, incoerentemente se choca quando relacionamentos famosos acabam. A separação da cantora Joelma com Chimbinha, e o mais recente dos jornalistas Fátima Bernardes e William Bonner são exemplos.

Em meio a isso, toda relação amorosa merece receber um nome. Não precisa ser no primeiro encontro, mas no momento certo a relação precisará ser categorizada, sob risco de durar ou se perder no tempo. Se é apenas um beijo em meio a um show ou balada sem maiores consequências, o nome disso é "ficar". Se depois de alguns beijos e encontros surge a certeza de um sentimento gostoso por uma pessoa a ponto de desejar apresenta-la aos amigos e familiares, isso tem cara de namoro. Se após um tempo de convivência chegou a hora de firmar algo mais sério com a pessoa amada, isso está com cara de noivado. E se ambos sentirem que o amor precisa passar por uma nova experiência, talvez esteja na hora de casar. Seja como for a relação, das mais complexas as mais improváveis, o que não pode ficar sem resposta a princípio é: o que nós somos, afinal?

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