19 janeiro 2014


Sempre que leio uma notícia sobre um homem bomba, imagino a coragem que esse indivíduo teve para implodir o próprio corpo para levar a cabo sua ideologia. Não é para qualquer um realizar esse feito. É preciso, antes de tudo, ter coragem e convicção da complexidade desse ato. Por mais controverso e polêmico que ele seja, engana-se quem pensa que não há homens-bomba no Brasil. Infelizmente há. Não me refiro ao indivíduo suicida, falo daqueles que possuem uma violência internalizada, sem ideologia nem causa, a qual é diariamente manifestada, muitas vezes sem razões aparentes. É só a necessidade de bater no outro, de mostrar que é controlador, dominador e superior. Ou seja, diferente daqueles que entregam seu corpo por alguma causa, seja ela nobre ou não, no oriente. Por aqui, nossa brutalidade é pura e simplesmente fruto da ignorância, insensatez e de uma herança histórica que nos legou sementes violentas que germinam até hoje dentro de nós.
Baseado nisso, cometemos atos de violência por qualquer banalidade. Basta que alguém pise no nosso pé para que uma verdadeira fera seja despertada. Não há desculpa que dê jeito, o que resolve mesmo é revidar com outro pisão a altura. No trânsito também nos comportamos com brutalidade. Buzinadas furiosas, palavrões, xingamentos, fazem parte desse circo de horror. Os mais alterados, saem dos seus veículos e resolvem tudo ali na tapa, às vezes até a morte. Quando são abordados pela polícia rodoviária, são grosseiros, recusam-se a cumprir as exigências legais. Os que não possuem veículos particulares recorrem aos ônibus e outros meios públicos de transportes. Neles, passageiros se atritam com motoristas, com cobradores, com os próprios passageiros, geralmente pelas razões mais ínfimas.

Chegando ao trabalho, ao colégio, seja lá qual for o destino, um colega faz um comentário, que é mal interpretado, pronto, já é motivo para se iniciar uma briga. Nesse ringue, nem os chefes, ou superiores, escapam. Basta ser chamada atenção para que uma fagulha de discussão seja acesa e o fogaréu esteja formado. Impacientes, impassíveis e resilientes, muitos de nós deixamos o estresse do dia a dia dominar nossas emoções, despertando uma selvagem violência que poderia ser contornada se fôssemos educados a sermos pacientes e mais tolerantes com o outro e com a vida em si. Além disso, numa sociedade acostumada a bater e não dialogar, o resultado é o crescente índice de violência em diversas capitais, onde geralmente os crimes são cometidos pelos motivos mais insignificantes possíveis.
E engana-se quem pensa que essa avalanche de violência está apenas ligada ao estresse cotidiano. Nos momentos de lazer, em que se imaginavam pairar a paz suprema, eis que surge a violência para negritar aquele que parecia ser um instante de prazer. É muito comum, por exemplo, em shows ou ambientes repletos de pessoas, que a violência internalizada dê seu ar da graça. Basta que alguém derrube um gole de bebida em você, bata na sua mesa ou cadeira, esbarre quando você estiver dançando ou saindo do banheiro. Tudo isso já é motivo de sobra para tirar satisfação com o indivíduo que, desatento, irrompeu a fronteira do outro. “Não olha por onde anda, não?” Diz aquele mais alterado. “Tá cego, meu amigo?”, diz outro com o mesmo tom. Isso, é claro, quando palavrões e empurrões são usados para denotar a indignação daquele que se sentiu violado.

A coisa piora se o indivíduo estiver acompanhado. Se for homem com a sua companheira e um terceiro elemento ousar se direcionar para ela com um olhar, mesmo que não seja maldoso, ou simplesmente esbarrar nela, está feita a confusão. O mesmo acontece ao inverso, quando muitas mulheres saem irradiadas em cima de outras que ousaram invadir seu território, direcionando-se aos seus homens. “Tá olhando o quê?” Essa indagação é comumente usada nestas situações por aqueles que, diante de uma fúria incontrolável, não suportam nem sequer serem encarados. Isso se dá porque o ser humano, como qualquer outro animal, possui aquela ideia territorialista de posse. A mulher é minha; o homem é meu; esse é meu lugar; não invada meu terreno, ou verá as consequências. Com esse discurso extremamente egoísta, muitos acabam incentivando atos de violência que poderiam ser evitados, apenas conversando ou ignorando a existência alheia indesejada.
Se na rua, entre desconhecidos, a selvageria humana encontra terreno fértil, há de se pensar que em casa esse comportamento seja improcedente. Ledo engano. Mesmo entre amigos, conhecidos, familiares e parentes, qualquer bobagem pode acender a chama da violência. Uma fala dita de forma ambígua; um gesto duvidoso; um tom de voz fora do comum; tudo pode ser motivo para que o estresse se transforme em violência e, aqueles que deveríamos amar e respeitar, numa fração de segundos podem se tornar nossos maiores inimigos. Essa sensível propensão à violência é algo compreensível, a priori, em se tratando da realidade brasileira. Vivendo imerso no mar de inúmeras violências mais graves, seja no âmbito cultural, social e, porque não, governamental, o povo é tratado como animal e, esquecendo-se da sua real condição, atacam o seu igual como se isso fosse algo natural, pois se tornou banal, diria até factual, ver a brutal manifestação da bestialidade humana e agir como se isso fosse uma coisa normal.

Incentivando, direta ou indiretamente do outro lado, está à mídia. Promovendo aquele velho, mas certeiro discurso da lei do mais forte, a partir dela, somos ainda mais incentivados a bater, ofender, xingar e até matar aquele que resolve atormentar a nossa paz. Mesmo tentando disseminar a paz, muitas emissoras se contradizem nesse discurso, pois a todo o momento em sua programação a violência é destacada, seja como furo jornalístico, seja como espetáculo no atual modismo do MMA. Passivos, os telespectadores absorvem esses discursos e, muitas vezes inconscientes, repetem o que viram na sua realidade cotidiana. É por isso que assistimos em choque aos casos em que marido bate na mulher, porque ela chegou tarde a casa; na mãe que torturou seu filho porque este é desobediente; no amigo, que após umas cervejas num bar, desconheceu o outro e matou-o sem nenhuma motivação. São esses crimes absurdos, porém bastante corriqueiros, que são fruto dessa violência internalizada, a qual caminha lado a lado das outras violências já conhecidas por todos.
Essa cultura violenta, na qual a tapa substitui o aperto de mão e onde o diálogo é trocado pelas balas, não se pode esperar muita coisa, senão o crescente índice de violência, que avermelha em sangue as matérias jornalísticas. Mesmo sabendo que o trânsito é um caos; que o chefe não é a melhor pessoa do mundo; que pessoas indesejáveis sempre existirão; que a nossa família e amigos nunca serão perfeitos; nos esquecemos de tudo isso nessa sociedade do revanchismo, onde a melhor defesa é sempre o ataque.  Os mais esclarecidos, no entanto, ainda conseguem conter a besta embutida dentro deles, ao ponto de conversar antes de confrontar. Entretanto, num país onde ser esclarecido é lutar contra a violência governamental, a qual simplesmente ignora a existência da população, o resultado é a formação de um povo carente, entre tantas coisas, de educação e, consequentemente, respeito pelo próximo. Enquanto isso, continuamos à mercê dessas brutalidades banais que poderiam ser evitadas se violências maiores, aquelas que assombram nosso país há tempo, fossem resolvidas.

No sábado, 11 de janeiro, Kaíque (16 anos)  foi encontrado morto, sem os dentes, com uma barra de ferro na perna e outros sinais de tortura. A polícia registrou o caso como suicídio. Não é preciso ser nenhum especialista para perceber que foi assassinato, provavelmente motivado por puro ódio.
 
Kaíque era negro, gay e provavelmente não pertencia às classes com maior poder aquisitivo. Na nossa sociedade branca heteronormativa, Kaíque fazia parte de três minorias e acumulava três tipos de preconceito: o de raça, o de sexualidade e o de classe social. Talvez essa situação fosse “amenizada” nos ambientes homossexuais e ele “só” sofresse racismo. E nos ambientes negros, “só” de homofobia.

Mesmo assim, não deve ter sido nada fácil encontrar um lugar que fosse acolhido plenamente e se sentisse protegido — se é que encontrou. Como tantos outros em nosso país, ele fazia parte de um grupo que é triplamente estigmatizado, invisibilizado e colocado em posição vulnerável. Não é a primeira vez que contam a história de Kaíque, mas a gente nunca deu a mínima. O Estado também não. Afinal, a vida de quem é preto vale menos — negros são 70% das vítimas de homicídio. A vida de quem é gay vale tão pouco quanto — os casos de assassinatos contra homossexuais triplicaram de 2007 a 2012. E a vida de quem é pobre segue na mesma cotação. Se a pessoa é preta, gay e pobre, o que não valia quase nada é dividido por três. Nem lágrima cai dos nossos olhos, que dirá uma comoção nacional.

E a regra é clara: se não tem valor, é deixado de lado. Invisibilizado. Não se considera nem nas estatísticas: não há recorte racial nos assassinatos registrados como motivados por homofobia, bem como não há recortes de sexualidade nos assassinatos registrados como de crime racial. E isso é uma coisa séria! Não tendo esses números, não se sabe e não se olha pra onde negros homossexuais estão sendo mais assassinados, não se reconhece os preconceitos da nossa sociedade, não se enxerga a dimensão do problema social e não há movimentação para resolvê-lo.

O resultado é esse aí registrado como suicídio. Como disse uma amiga minha “dizer que foi suicídio é como dizer que ele pediu por isso”. Muita gente acredita que por ser preto e gay ele pediu. Mas ele não pediu. Kaíque e tantos outros não pediram pra nascer numa sociedade que estigmatiza o preto, o gay e o pobre. E isso tudo é culpa do descaso do Estado e do meu, do seu e do preconceito dessa pessoa que tá aí ao seu lado. O Estado não criminalizou a homofobia, não aplica efetivamente as leis anti racismo, não educa contra o preconceito. Eu, você e a pessoa aí do lado não pressionamos o governo, os legisladores e as instituições, não denunciamos e ainda negamos quando algum oprimido acusa uma opressão. (In)Diretamente, todos somos torturadores dos jovens negros gay assassinados nesse país.

Visto no: GGN

Recentemente, na novela da Rede Globo ‘Amor à Vida’, a personagem autista Linda e o advogado Rafael se beijaram. A trama de romance entre os dois levantou um debate sobre as possibilidades de relacionamentos amorosos para pessoas autistas. Dois textos foram bem divulgados esses dias: E a moça autista da novela, hein??? de Aninha Arantes e Amor à vida: Linda e Rafael, amor ou abuso de incapaz? de Verinha Dias. Há também matérias com opiniões de mães de autistas.
 
Meu principal receio em relação a essa discussão é a maneira como enxergamos uma pessoa diferente da maioria. Uma pessoa com autismo enfrenta dificuldades para lidar com o que acreditamos ser o processo de desenvolvimento de qualquer ser humano comum. É habitual pensarmos que pessoas que tem limitações em nossa sociedade são menos humanas, menos aptas, incapazes de gerir suas próprias vidas, dependentes, desamparadas, assexuadas. Porém, como em diversos outros exemplos, é importante lembrar que cada caso é um caso e não podemos taxar que uma pessoa autista jamais poderia se relacionar amorosamente, até mesmo com uma pessoa que não é autista.
 
A novela apresenta alguns equívocos desde o começo. Primeiro: todo o autismo jogado dentro de um saco só. Linda representa uma pessoa com autismo de uma maneira distante da realidade. O autismo é um transtorno bastante diverso, com muitas manifestações e possibilidades, a personagem é apenas uma dentre vários possíveis tipos existentes. A novela ajuda nessa percepção? Não. Mas, até aqui, ‘Amor à Vida’ tem se equivocado em MILHARES de coisas. A ridicularização da personagem Perséfone e a gordofobia explícita são bons exemplos.
 
O autor Walcyr Carrasco, ao tentar cumprir uma função social de visibilidade, tem pecado enormemente com os conceitos que apresenta. Ao mesmo tempo, não seria demais exigir de uma peça de entretenimento tão subjetiva quanto uma novela uma carga tão alta de responsabilidade informativa? Não é papel da novela informar, talvez só dar visibilidade. Claro que isso tem seus efeitos colaterais (como as pessoas gordas sendo mais discriminadas e ridicularizadas, como já vimos) e estes devem ser pontuados, observados e combatidos sempre que necessário. Mas, no caso de uma diferença social, pode ser um pontapé para o início de várias discussões, como é o caso do autismo e o silenciamento sobre inclusão. Podemos, inclusive, fazer outras perguntas: por que não se buscou uma atriz com autismo? Será que não existem atrizes autistas com capacidade de representar o papel?
 
linda rafael
Rafael (Rainer Cadete) e Linda (Bruna Linzmeyer) em cena da novela da Rede Globo ‘Amor à Vida’. Foto: Rede Globo/Divulgação.
 
Outro fato intrigante é o tabu que envolve a sexualidade de uma pessoa com autismo. Infelizmente, a trama é extremamente romantizada e maniqueísta, com a personagem da mãe sendo a vilã, em oposição ao pai, que seria o bonzinho que apoia o relacionamento amoroso. Porém, existe um incômodo com o fato de a personagem ser uma incapaz (termo mais infeliz que esse não há) e não ter condições de decidir pela própria vida, inclusive sexual e afetivamente. Há o argumento de que a relação que ela tem com o rapaz é desigual e pressupõe um poder, por isso a intervenção da mãe. Mas, a relação que existe entre Linda e a mãe também não pressupõe poder? A mãe é adulta e teve desenvolvimento típico, assim como Rafael, namorado de Linda. Ao determinar quais relacionamentos são adequados ou não para a filha, essa mãe também não está exercendo poder? Negar o exercício da sexualidade a uma pessoa pode ser igualmente violento e abusivo.
 
Então, se entendemos a tutela em si como uma relação necessariamente de poder, qual é a questão? É a personalidade de Rafael? Mas, se envolver com uma pessoa que tem falhas de caráter e pode ser uma abusadora não deveria ser uma preocupação de qualquer pessoa, independente de sua condição mental? A negação da sexualidade dos ditos incapazes (crianças, pessoas com deficiência, pessoas com autismo, etc.) ou a restrição de seus relacionamentos amorosos apenas com pessoas que tenham a mesma condição é um retrocesso no debate e colabora para que o assunto permaneça um tabu. E, por favor, não estou aqui defendendo a pedofilia. Mas, não podemos continuar com essa ideia idílica de que os ditos incapazes são seres assexuados e sem nenhum desejo sexual.
 
É inegável a questão concreta da violência capacitista, com abusos dirigidos a pessoas com autismo de uma maneira geral e que é muito pertinente. As estatísticas de violência dirigidas às pessoas autistas ainda são muito imprecisas, especialmente por causa desse tipo de raciocínio, de que autistas não possuem capacidade de se responsabilizar pelos seus atos, nem por uma denúncia de abuso. É comum que estas pessoas sejam desacreditadas no momento de uma denúncia, até mesmo entre os familiares, já que muitos casos de violência envolvem familiares, tutores e cuidadores.
 
Porém, dizer que uma pessoa não pode tomar decisões é muito grave, gravíssimo. É negar direitos políticos, sociais e individuais a ela. Não esqueçamos que, até pouco tempo, o mesmo parâmetro era adotado para mulheres e negros. Então, no mínimo, há que se ter um pouco de cautela antes de determinar o que é autonomia, quem deve ter direito a ela e até onde ela vai.
 
Sabemos muito pouco sobre o funcionamento de nossas capacidades mentais. Muito se diz sobre o mundo paralelo em que os autistas vivem, mas pouco se sabe sobre ele, porque insistimos em excluir de nosso convívio quem é diferente, a enxergá-los como “coitados” e “dependentes” que nunca poderão ter uma vida plena. Temos que encarar o autismo como uma condição cheia de possibilidades e manifestações diversas. E, por mais que tenhamos atenção com pessoas que necessitam de cuidados específicos, precisamos também respeitá-las, possibilitar ferramentas mínimas para autonomia e desenvolvimento. Esse compromisso não pode ser só da família, mas obrigatoriamente da sociedade.
 
Visto no: Geledés

Minha mãe tinha 18 anos na época em que foi estuprada. Ela não foi a única que sofreu este tipo de violência na família: tenho uma tia que também foi humilhada e estuprada por mais de um homem, mas não teve frutos disso, a não ser o trauma e a vida quebrada.
 
Somos de uma cidade muito pequena no interior de Santa Catarina. Ela havia saído com minha tia para dançar em uma matinê e, quando voltou para casa, sofreu agressão física muito brutal do avô, que era militar e muito rigído com regras e com relação às filhas saírem de casa. A família era muito grande – eram 5 filhas no total – e havia muita preocupação com relação as filhas ficarem mal faladas.
 
Estou abrindo isso para mostrar como ignorância só gera ignorância. Meu avô não é má pessoa, mas ele era alcoólatra e muito severo com as meninas.
 
Minha mãe ficou desesperada depois da surra que tomou e decidiu fugir de casa com minha tia. As duas estavam muito machucadas e vulneráveis e se sentaram desoladas nas escadarias da Catedral no centro da cidade, onde estes dois homens se aproximaram de forma amigável e ofereceram amparo. Elas inocentemente aceitaram e foram passar a noite na casa deles, onde haviam mais homens. Foi quando toda a violência física ocorreu. Minha tia era mais forte e conseguiu fugir, mas minha mãe não conseguiu e foi violentada por mais de um homem. Somos tão parecidas fisicamente que ela mesmo lamenta o fato de nem sequer saber qual deles é meu pai.
 
Naquela época as coisas não eram bem explicadas – em sua maioria, eram omitidas. Minha mãe não contou a ninguém o ocorrido, pois, além da vergonha, ela ainda se sentia mortificada de medo de que não acreditassem nela. Ela era tão inocente que nem sabia que estava grávida, nem foi atrás de justiça, apenas se fechou. E quando a barriga ficou impossível de disfarçar, ela não pôde mais negar e outra vez passou por mais humilhação. Teve que sair de casa às pressas, pois meu avô queria matá-la. Eu não acho que, para ela, seguir a gravidez foi uma escolha, ela não entendia o que estava acontecendo e só teve essa opção.
 
Essa história afetou minha vida e a relação com a minha mãe por muitas razões. Ela não tinha a menor estrutura emocional de ter um filho sob aquelas condições e naquela idade. E eu nunca me senti desejada. Minha infância ficou quebrada e minha vida, incompleta. Só soube dessa história quando tinha 11 anos. Até então, ela dizia que meu pai havia morrido num acidente enquanto ela estava grávida, o que eu sempre achei estranho, pois nunca havia visto uma foto ou algum registro de que ele realmente existira.
 
Minha infância ficou incompleta porque me faltou a figura paterna, minha mãe era instável emocionalmente, me senti enganada e não consegui assimilar quando ela me contou a minha origem. Me sentia humilhada quando via minhas amigas com seus pais num lar ajustado.

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“Acho muito mais digno interromper uma gravidez indesejada do que colocar uma criança no mundo para sofrer e passar necessidades. Hoje não sinto a menor vontade de ser mãe. Não acredito que poderei ser boa o suficiente” – Cláudia Salgado. (Reprodução – OLGA)

Sentia raiva da minha mãe porque ela me teve sem ter me desejado, embora existisse o respeito por saber que ela nunca deixou nada me faltar e sempre fez o possível para que eu crescesse com dignidade, tivesse uma boa educação e nada me faltasse.
 
Sempre tive o sentimento de que ela se importava comigo, mas não me amava… E até hoje tenho este sentimento, mas hoje é mais compreensível porque, com o tempo, adquiri maturidade para entender o quanto isso foi danoso e o quanto deve ter sido difícil para ela ter que conviver com o fantasma de um ato bárbaro. É muito difícil lidar com a dor da rejeição, ela nos deixa realmente miseráveis… E mesmo que você tente se agarrar a seu orgulho, esbravejar que está tudo bem e ser indiferente a situação, não tem como: aquilo está ali, é a realidade da sua vida e você precisa aceitar.
 
Acho que nesse caso é visível que a ignorância gerou tudo isso. Se ela tivesse mais abertura em casa e direito de expressão, mais compreensão da parte dos pais, nada disso teria acontecido.
 
Não sei se cabe dizer que ela poderia ter escolhido interromper a gravidez, pois acredito que ela nem se quer sabia que isso era possível naquela altura. E também sei que no fundo ela não se arrependeu, porque não fui uma filha ruim e nunca dei trabalho ou fiz algo que pudesse fazer com que ela se arrependesse de eu ter nascido. Pelo contrário, minha chegada na família foi recebida com muito amor, inclusive meu avô aceitou e foi um pai para mim. Quem me criou foram meus avós, minha mãe teve mais um papel de provedora, pois sempre trabalhou muito para garantir que nada me faltasse.
 
Acho apenas que ela deveria ter se empenhado mais em achar estes bandidos, mas, ao mesmo tempo, acredito que ela estava muito fragilizada naquele momento e não tinha condições de lutar por nada além da nossa sobrevivência. E devo confessar que sou uma pessoa de sorte, pois não tive um pré-natal e nasci muito saudável.

O PROJETO DE LEI DO NASCITURO

Acho esse projeto de lei um grande equívoco. Acredito que as mulheres deveriam ter suporte financeiro e emocional do governo para tomarem a decisão que melhor fosse conveniente a elas, especialmente num caso de estupro, em que deveria ser totalmente amparada e ter o direito de escolha de continuar ou interromper a gravidez. Não se trata apenas de receber uma esmola do governo, vai muito além disso…

A FAVOR DO ABORTO

Por ser fruto de um estupro, me sinto até mesmo no direito moral de ser a favor do aborto. Eu sei o quanto foi horrível e quantas vezes desejei não ter nascido, pois acredito que a vida da minha mãe teria sido muito melhor se isso não tivesse acontecido. Ela teria tido mais tempo para concluir os estudos, fazer coisas que uma jovem da idade dela faria se não tivesse um filho nos braços. Ela não teria passado pela dor da reprovação, pela humilhação que passou e teria muito mais chance de ter formado uma família e ter um lar ajustado. Demorou muitos anos até que ela conseguisse (eu já era adolescente quando ela conheceu uma pessoa, com qual ela já está há 12 anos e tem outra filha). Ela também acabou de se formar em Direito, aos 47 anos de idade. Acho muito mais digno interromper uma gravidez indesejada do que colocar uma criança no mundo para sofrer e passar necessidades.
Eu fiquei extremamente sequelada, e não sinto a menor vontade de ser mãe. Não acredito que poderei ser boa o suficiente. Me sinto extremamente insegura e tenho muita resistência ao assunto. Sempre digo que só terei um filho se algum dia estiver em uma relação estável com alguém que queira muito, que me passe essa segurança.

O QUE PODEMOS FAZER

Eu acho que falta promover a igualdade, no sentido de que nós, mulheres, tenhamos autonomia sobre nossos próprios corpos e que possamos decidir por nós mesmas como ter um filho afetará nossas vidas e a da criança inocente. Sem interferência de religião, a mulher necessita ter esse direito e centros de apoio moral e psicológico. Vamos supor que homens pudessem engravidar, vocês acham que o aborto já não estaria legalizado?
 
Leis como essa são criadas, pois vivemos num mundo cheio de pessoas ignorantes e incapazes de pensar no dano que um estupro causa à história de uma pessoa.
 
Devemos promover discussões saudáveis e positivas sobre o assunto em um aspecto geral, derrubar dogmas e aumentar a consciência de um assunto que é importante na vida de muitas pessoas. Trabalhar com comunidades locais oferecendo suporte psicológico, oferecer uma plataforma neutra onde a mulher tenha espaço, sem ser julgada, e analisar realisticamente os prós e contras da gravidez. E que a mulher possa fazer sua própria decisão.
 

 

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Sam Alves (Reprodução / Tv Globo)

Kiko Nogueira, DCM

O programa “The Voice” deixa como legado uma praga sinistra na música brasileira: o oversinging, a exibição de musculatura vocal e virtuosismo estéril que destrói qualquer canção.
 
Não era uma tradição brasileira. É uma herança bastarda do gospel. É o que já fazem há algum tempo, lá fora, Christina Aguilera, Mary J. Blige, Jessica Simpson, Josh Groban, Beyoncé, a insuportável Céline Dion, entre outros. Torturam as notas até não sobrar nada delas, ignoram as letras em prol de um exibicionismo obtuso, matam a pauladas a gentileza.
 
O ganhador do karaokê da Globo, Sam Alves, começou sua epopeia esfaqueando a delicada “Hallellujah”, de Leonard Cohen, e terminou gritando alguma outra música. É um retrocesso para o Brasil. João Gilberto e Tom Jobim — e depois seus seguidores Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Roberto Carlos e outros –, haviam atirado no século 18 o vozeirão de canastrões como Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves e Ângela Maria. Perto desse pessoal do The Voice, Cauby, Ângela e Agnaldo Timóteo são silenciosos como a brisa.

Não é agradável. Não é cantar. É gritar mais ou menos no tom. Não que não tenhamos tido intérpretes exagerados. Elis Regina, para ficar num exemplo, era derramada, dramática. Mas nunca em detrimento da canção. Ela estava a serviço dela. Elis se descabela em “Atrás da Porta”, de Chico, mostrando todos os seus dotes, sem abrir mão do que a composição está falando. Você pensa em cortar os pulsos, nem que seja por dois segundos.
O oversinging virou um padrão da indústria. O nível de intoxicação é tão grande que, aparentemente, não há mais o que fazer. A moça que interpreta forró é obrigada a dar cambalhotas vocais. O que esses caras fazem com Tim Maia é uma maldade. Tim, que inventou o soul brasileiro, era econômico com seus vastos recursos vocais. No final de “Gostava Tanto de Você”, ele se solta um pouco mais. É uma aula de contenção e feeling.

A nova histeria musical nacional quer que a melodia original se dane. O que importa é colocar o máximo possível de confetes num bolo até ele perder o gosto. É a globalização da ruindade. O rapaz de Fortaleza canta exatamente como o da Nova Zelândia. E eles vêm em série. É um ciclo vicioso que entope o mercado de vocalistas que berram, sempre a um passo de imolar suas gargantas.
 
Se você quiser culpar alguém, culpe Whitney Houston. Foi ela quem popularizou a técnica por trás do oversinging, chamada de melisma, a capacidade de emitir várias notas numa sílaba. Aretha Franklin fazia uso disso antes dela, mas Whitney levou a coisa a um outro patamar. No início dos anos 90, ela estourou com “I Will Always Love You”, em que o “I” durava seis segundos. Fazia estrepolias com o “You”, também. Sem desafinar, faça-se justiça. Na esteira dela, vieram seus clones modernos.

Suas acrobacias eram resultado de treino árduo e, claro, dom. O piro virtuoso de Whitney e seus asseclas é uma espécie de aviso aos autores: “Ok. Vocês bolaram essa harmonia, escreveram essa letra — mas agora a coisa está comigo e eu farei o que eu quiser”. Uma espécie de apropriação indevida, muito lucrativa em alguns casos.

Por trás de cada refrão estuprado por esses Godzillas, há um autor pedindo socorro. Os mortos não têm saída. Os vivos podem achar que vão ganhar dinheiro com isso. O oversinging é uma doença estética que, graças ao The Voice, vai ganhar o país. Como dizia Agnaldo Timóteo, a plenos pulmões: “Ai, ai, mamãe, eu te lembro chinelo na mão, o avental todo sujo de ovo. Se eu pudesse, eu queria começar tudo, mamãe, tudo de novo”.
 

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
 
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
 
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a "injustiça" e boa parte se emburra e desiste.
 
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
 
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam "felizes". Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
 
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
 
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que "fulano é esforçado" é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
 
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do "eu mereço".
 
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
 
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: "Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil"? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
 
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
 
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
 
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
 
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
 
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
 
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
 
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: "Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua". Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: "Olha, meu dia foi difícil" ou "Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso" ou "Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir". Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
 
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
 
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

Visto no:Geledés
Demissão de professor de história abre polêmica entre religião e ensino. Giovani Biazzetto teria sido demitido por se recusar a abordar conteúdos de cunho religioso durante as aulas
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Professor Giovanni Biazetto diz que sofreu perseguição religiosa por parte do diretor do Colégio, irmão Olir Facchinello (Foto: Divulgação)
 
A demissão de um professor de história do Colégio La Salle Pão dos Pobres, de Porto Alegre, levantou a polêmica sobre até que ponto a doutrina religiosa de escolas ligadas a uma crença religiosa, chamadas de confessionais, pode exercer influência sobre o currículo escolar e a pedagogia de uma escola.
 
O professor de história Giovanni Biazzetto lecionava há quase cinco anos no colégio. De acordo com o professor, ele começou a sofrer perseguição religiosa do novo diretor, irmão Olir Facchinello, que assumiu o cargo em janeiro deste ano. Segundo Biazzetto, foi exigido que ele abordasse conteúdos de cunho religioso nas aulas de história, algo que ele se recusou a fazer.
 
“Em nenhum momento me disseram que eu deveria dar uma aula com doutrina religiosa. Agora imagina que coerção é para um professor que não tem aquela crença escutar o diretor dizer: ‘todos vocês têm que falar sobre os dons do Espírito Santo em sala de aula’”, disse Biazetto em entrevista ao portal Terra. “Minhas aulas sempre foram estruturadas no debate, na leitura e na escrita. Isso sem contar os projetos educacionais que criamos no colégio e que estão em andamento desde 2010”, completou o professor.
 
Após a demissão de Biazzetto, no dia 17 de maio, um grupo de pais e alunos protestaram em frente à escola contra a atitude da direção. Porém, os alunos e pais que defendem o professor estão supostamente recebendo ameaças por parte da escolar. Uma mãe, que não quis se identificar, disse ao Terra que o grupo teria recebido ameaças de perda de bolsas por parte do La Salle Pão aos Pobres. A escola conta com 430 alunos, sendo que 70% destes possui bolsa integral e 25% bolsa parcial. O grupo de pais e alunos denunciou a ameaça ao Conselho Tutelar e o caso está sendo investigado.
 
A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB) garante às escolas a autonomia quanto a metodologia de ensino, porém exige que sejam contemplados conteúdos obrigatórios. Já a educação religiosa é facultativa. No caso da escola oferecer a disciplina, a LDB determina que deve ser assegurado o respeito à diversidade e proíbe qualquer forma de imposição de uma doutrina aos alunos, o chamado proselitismo religioso.
 
A LDB deve ser respeitada tanto por instituições de ensino públicas quanto por particulares. De acordo com o Sinepe-RS (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado no Estado do Rio Grande do Sul), a diferença para as escolas confessionais é que as mesmas são autorizadas a dar mais ênfase à religião no seu projeto pedagógico.
 
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Alunos protestam contra demissão de professor de história (Foto: Ramiro Furquim/Sul21.com.br)
 
Segundo a coordenadora do programa de pós-graduação em educação da Universidade Metodista de São Paulo, Roseli Fischmann, no caso de optarem por escolas confessionais, os pais devem conhecer qual o tipo de abordagem educacional da instituição de ensino. Entretanto, toda escola, confessional ou não, deve assegurar o ensino dos conteúdos obrigatórios, mesmo aqueles que entram em conflito com a doutrina da instituição.
 
Segundo nota divulgada pela assessoria de comunicação da rede La Salle Porto Alegre, o motivo da demissão do professor de história foi “uma questão técnico-pedagógica”.
 
De acordo com a assessora educacional da instituição, Rosemari Fackin, o ensino religioso nas escolas lassalistas segue os parâmetros determinados em lei e trabalha os valores cristãos de forma não catequista. “Não temos a ideia de catequizar os alunos. Fazemos reflexões diárias, o que não quer dizer que seja uma reza ou algo doutrinário. Tanto que temos crianças de outras religiões e que assistem à aula de ensino religioso. E se o pais não quiserem, o aluno pode sair da sala”, explicou Fackin.

Visto no: Pragmatismo Político

11 janeiro 2014



Todo ano é a mesma coisa. Quando começa as chamadas do BBB, os internautas mais cultos se apresentam para atacar esse programa. Eu, por exemplo, não sou muito fã desse reality show, mas já assiste no passado. Por isso, consigo ver nele dois lados, um até positivo, porém esse não é o momento para destrinchar tais questões. O foco agora, na minha opinião, é a hipocrisia de alguns em dizer que tal programa não presta, porque as pessoas estão ali para se exibir e ganhar dinheiro com isso. Ora, a mesma coisa rola no facebook, sendo que ao invés de dinheiro ganhamos curtidas, comentários, compartilhamentos e seguidores.

Vejo constantemente nessa rede social, as pessoas fazendo de tudo para se exibir, igual ao BBB. Se no programa da globo, a audiência gira em torno de pessoas em momentos triviais do dia a dia, por aqui algo semelhante acontece. São pessoas mostrando fotos no espelho do banheiro, exibindo seus corpos, iguais aos participantes do reality show, sensualizando para câmeras, postando fotos tão íntimas quanto aquelas imagens que elevam a audiência desse BBB durante esses 14 anos de existência. Porém, essas mesmas pessoas insistem em dizer que tal programa é ruim, porque ele não agrega valores e os participantes expõem suas vidas para todo mundo ver. Ora, acho que muitos de nós fazemos o mesmo por aqui.

Como disse há pouco, não curto o BBB e tenho minhas razões para isso, porém não sou de acordo bancar o politicamente correto e dizer que esse ou aquele quadro são de péssima qualidade, baseado apenas no senso comum. Me colocando no foco da questão outra vez, eu adoro programas da cultura que poucos assistem, mas também assisto, quando posso, aos programas que alguns diriam que não agregam conhecimentos. Certa vez, li que "a humildade é aprendida com aqueles que possuem menos conhecimento do que você". E, aproveitando essa máxima, acrescento que alguns programas poderiam entrar nesta lista, bem como tudo em nossa vida.

Não estou dizendo para que você do outro lado comece a ser um telespectador assíduo do BBB. Não disse e nunca direi isso, até porque não estou ganhando nada por isso. Apenas peço que antes de expor determinadas opiniões, textos, imagens ou o que quer que seja na internet, verifique se essa sua posição é real ou fruto de uma pseudointelectualidade, criada apenas para chamar atenção daqueles que estão do outro lado. Outro detalhe, de tanto falar nesse programa, positiva ou negativamente, é que parece perdura-lo ainda mais na tv. A globo sentiu há muito tempo o poder que ele exerce e continua lucrando com isso.

Povo, o BBB é a sociedade, nua, crua e cruel de sempre. Tanto ele como o facebook fazem parte do que Goerge Orwell, no célebre 1984, tratou como a cultura da confissão/exposição. Seres em busca da fama televisiva e/ou virtual, querendo a todo custo as luzes da ribalta. O BBB é a sociedade também porque não há maquiagem. Há apenas o ser humano real, nas suas carências reais, expondo, para isso, todo o seu arsenal de persuasão para conquistar o aclamado prêmio.

E vale tudo, mentir, enganar, falsear, ludibriar, brigar, trepar, rir e até chorar. Porém, no final desse rolo compressor, haverá um "campeão". Nesse aspecto, consigo enxergar umas das poucas coisas que diferencia o BBB do FACEBOOK. Enquanto o primeiro, os participantes tem coragem de se mostrar, no segundo as pessoas criam fakes, tão falsos quanto umas postiças. E, acrescento, enquanto no primeiro tudo o que é nocivo ao humano, recebe prêmios, no segundo nada se ganha. Portanto, você opositor do BBB, veja na sua timeline se a sua vida é cercada de sigilo ou exposta como no programa da globo e, antes de rechaçar isso ou aquilo outro, olhe para o seu próprio umbigo. Opa, perfil. 


Puta, piranha, vadia, vagabunda, quenga, rameira, devassa, rapariga, biscate, piriguete. Quando um homem odeia uma mulher — e quando uma mulher odeia uma mulher também— a culpa é sempre da devassidão sexual. Outro dia um amigo, revoltado com o aumento do IOF, proferiu: "Brother, essa Dilma é uma piranha". Não sou fã da Dilma. Mas fiquei mal. Brother: a Dilma não é uma piranha. A Dilma tem muitos defeitos. Mas certamente nenhum deles diz respeito à sua intensa vida sexual. Não que eu saiba. E mesmo que ela fosse uma piranha. Isso é defeito? O fato dela ter dado pra meio Planalto faria dela uma pessoa pior?

Recentemente anunciaram que uma mulher seria presidenta de uma estatal. Todos os comentários da notícia versavam sobre sua aparência: "Essa eu comeria fácil" ou "Até que não é tão baranga assim". O primeiro comentário sobre uma mulher é sempre esse: feia. Bonita. Gorda. Gostosa. Comeria. Não comeria. Só que ela não perguntou, em momento nenhum, se alguém queria comê-la. Não era isso que estava em julgamento (ou melhor: não deveria ser). Tinham que ensinar na escola: 1. Nem toda mulher está oferecendo o corpo. 2. As que estão não são pessoas piores.

Baranga, tilanga, canhão, dragão, tribufu, jaburu, mocreia. Nenhum dos xingamentos estéticos tem equivalente masculino. Nunca vi ninguém dizendo que o Lula é feio: "O Lula foi um bom presidente, mas no segundo mandato embarangou." Percebam que ele é gordinho, tem nariz adunco e orelhas de abano. Se fosse mulher, tava frito. Mas é homem. Não nasceu pra ser atraente. Nasceu pra mandar. Ele é xingado. Mas de outras coisas.

Filho da puta, filho de rapariga, corno, chifrudo. Até quando a gente quer bater no homem, é na mulher que a gente bate. A maior ofensa que se pode fazer a um homem não é um ataque a ele, mas à mãe — filho da puta- ou à esposa — corno. Nos dois casos, ele sai ileso: calhou de ser filho ou de casar com uma mulher da vida. Hijo de puta, son of a bitch, fils de pute, hurensohn. O xingamento mais universal do mundo é o que diz: sua mãe vende o corpo. 1. Não vende. 2. E se vendesse? E a sua, que vende esquemas de pirâmide? Isso não é pior?

Pobres putas. Pobres filhos da puta. Eles não têm nada a ver com isso. Deixem as putas e suas famílias em paz. Deixem as barangas e os viados em paz. Vamos lembrar (ou pelo menos tentar lembrar) de bater na pessoa em questão: crápula, escroto, mau-caráter, babaca, ladrão, pilantra, machista, corrupto, fascista. A mulher nem sempre tem culpa.

Visto na: Folha Uol


Hoje me arrumando no espelho, encontrei algo em mim que eu raramente encontro, uma espinha. Sei que é bem comum se ter isso, mas, de tanto olhar pra aquela espinha, eu fiquei pensando: como existe pessoas espinha em nossas vidas. Sim, pessoas que assim como as espinhas, incomodam, nos causam dor, tiram a alegria do nosso rosto e que só aparecem quando estamos nos preparando para algo especial e estragam com a nossa felicidade. 

Muitas vezes tentamos disfarçar, maquiar, esconder essa " espinha ", esperando que ela simplesmente suma do mesmo jeito que apareceu em nossas vidas, mas apesar de tudo, nada parece funcionar e assim como com as espinhas, esse tipo de pessoa que tenta a qualquer custo fazer parte de você, deve ser "espremido" de nossas vidas. 

No começo vai doer, pode te machucar e até deixar marcas, mas prefira antes a dor do momento, que é passageira, do que o incomodo de um ser sempre a espreita para suprimir sua alegria e estragar seus planos.


Pois é, talvez estejamos usando a palavra errada sobre determinadas opiniões. Como ser preconceituoso com gays se já conhecemos quem eles são? Pessoas iguais a pessoas, com alguns casos em que há determinados exageros. Como ser preconceituoso com evangélicos sabendo quem são eles, um grupo com fé na bíblia e que segue ensinamentos, porém existem aqueles que tiram proveitos de pessoas frágeis. E como ser preconceituoso com Negros? Se desde o primário escolar já sabemos de toda sua história. Existindo casos é claro onde eles de fato, quando não cagam na entrada, cagam na saída.

Na opção sexual, na religião e na raça, existem muitos debates. Porém na minha opinião o ser humano aprendeu a avaliar as pessoas e seus gostos pela minoria que prática a parte errada da história, isso mesmo. É óbvio que todas as escolhas existem seus prós e contras, Tudo tem sua consequência. Mas porque avaliar o caráter de alguém porque ele é negro. Ou simplesmente dizer que todos os pastores são ladrões. Porque indiciar criminalmente Alan Turing pelo fato de o mesmo ser homossexual tendo ele ajudado tanto a sociedade (Mesmo até se fosse um mero desconhecido). Simplesmente pelo fato de termos pontos de vista diferente.

Não aceitar as pessoas por elas serem quem são não é pré-conceito e sim pós-conceito que pra mim é pior ainda. Julgar o livro pela capa é pré-conceito. Assistir um ótimo filme e dizer que é ruim porque ele é nacional, isso é pós-conceito. Da mesma forma acontece com pessoas. Sabemos quem somos, e quem são os outros. Sabemos das lutas de cada um. Mesmo assim preferimos rejeita-las.


Quem nunca sonhou com um amor de novela? Pois eu já sonhei! Imaginava quando criança como seria o meu primeiro namoro. Se haveria aquela magia dos romances novelescos. Se eu sentiria meu coração palpitar ao ver a pessoa amada. Se eu encontraria, no primeiro olhar, a minha "cara metade".

Queria um amor. Um tipo novela das oito. Aquele que enfrenta tudo e todos para ser feliz. Um sentimento avassalador, capaz de nos fazer cometer as mais insanas loucuras. Sem precedentes, ilimitado, além da nossa imaginação. Aquele que nos cega, nos tira do chão nos perde no caminho certo.

Algum amor aventureiro, baldio, certo no meio de tantas incertezas. Esse amor personificado num único ser. Alguém que fosse capaz de, junto a mim, se entregar, se perder e desejar apenas multiplicar os sentimentos bons existentes naquele romance que eu idealizava nas novelas

Quando cresci, porém, vi que a realidade é outra. O amor existe, mas não como nas novelas ou contos de fadas. Ele também tem seus defeitos e, como uma pedra preciosa, ele é cada vez mais raro. Se você encontra-lo em alguma esquina, agarre-o com unhas e dentes, pois não faltará gente querendo ocupar seu lugar.

Sorte que o amor pode assumir outras facetas. Podemos canaliza-lo para a família, para os amigos, o trabalho, um hobby, ou tudo aquilo que nos faz bem. Enquanto isso, eu escrevo. Alguns leem e o tempo passa. Nesses tempos de sentimentos fugidios, onde o amor é aniquilado diariamente, não podemos nunca perder as esperanças. Nunca! Enquanto isso, procure algo ou alguém para amar, pois se depender da fantasia das novelas e do cinema, continuaremos totalmente solteiros.

07 janeiro 2014



Considerado como uma verdadeira bomba relógio, o sistema prisional brasileiro é conhecido nacional e mundialmente pela sua precariedade em todos os aspectos. Pavilhões lotados, celas com detentos além da capacidade, falta de carcereiros e pessoal habilitado para vigiar os presos, condições insalubres de higienização e, por isso, de saúde. Tudo isso constantemente é noticiado na mídia e nada foi feito até agora para mudar tal realidade. Sabendo disso, muitos presos encontram meios de viver confortavelmente dentro desses ambientes, através de ameaças, subornos e outras corruptelas típicas da cultura brasileira. O resultado disso é a binária divisão dos que nestes locais habitam: muitos vivendo amontoados como selvagens e outros desfrutando de regalias, como se estivessem hospedados em hotéis cinco estrelas.

Diante desse quadro, é de se esperar que, no caso do primeiro grupo, ocorram manifestações violentas, mas conhecidas como rebeliões. Motivadas por inúmeras razões, seja para melhorias da permanência deles nos presídios, seja para buscar formas de sair de lá, essas incendiárias ocorrências da brutalidade nas cadeias denota o quão frágil é a nossa segurança pública. Fragilidade esta que frequentemente é evidenciada quando os detentos resolvem confrontar a barreira policial. E tal embate independe se o preso está ou não encarcerado, visto que, muitos são aqueles que dentro do sistema penitenciário emitem ordem de comando, muitas vezes até através de aparelhagem eletrônica, para que atrocidades ocorram fora dos limites prisionais. Frente a essa falta de limites, no Maranhão, detentos emitiram uma ordem para incendiarem um ônibus na principal avenida da cidade, em retaliação a ação da polícia carcerária de lá. Resultado, gente inocente morta e alguns ainda feridos.

Entre as vítimas desse comando, estava a maranhense Ana Clara Santos Souza. Ela que lamentavelmente faleceu, depois de não suportar as queimaduras que estavam alastradas em 95% do seu corpo. Essa atrocidade, cometida por seres que já perderam a humanidade há muito tempo, chocou o país. Ficar chocado, porém, não trará a vida dessa garota de volta. Nem tão pouco do seu bisavô, que morreu ao saber do estado da menina. Essas vidas perdidas trazem à tona outra discussão pertinente: a falta de estrutura da segurança pública daquele Estado e do restante do país, tanto dentro quanto fora das unidades prisionais. Enquanto a nação se concentra social e midiaticamente falando, com a chegada da copa, mal podemos assegurar que fatalidades como essas continuem acontecendo. Ao invés disso, continuamos a direcionar o dinheiro público para fins hedonistas, enquanto vidas infanto-juvenis e adultas são ceifadas e nada é feito para reverter essa situação.

Não tem como não sentir um misto de indignação e revolta ao saber que uma menina de seis anos de idade teve sua vida interrompida abruptamente. Vergonha por ver que essa vida poderia ter sido poupada, se o nosso voto fosse mais bem direcionado e, se os governantes escolhidos tivessem um real compromisso com as prioridades existentes no país, as quais sempre se apresentam através da violência urbana, como no caso da falecida maranhense. Ou seja, se o sistema prisional brasileiro passasse por um processo digno de melhorias, talvez a ordem emitida para incinerar o ônibus, que reduziu a vida daquela garota a pó, não tivesse sido enviada. Também não tem como não sentir vergonha de um país que não investe no que, de fato, é essencial. Mesmo que o presídio não deva ser um local de luxo. Ele também não pode ser um ambiente onde homens entram humanos e se tornam verdadeiras bestas. No mínimo, um lugar onde a ressocialização seja capaz de dar uma nova chance àqueles que estiverem dispostos a mudar.

No entanto, infelizmente, esse processo de ressocialização dos presidiários está longe de ser concretizado. Convivendo com marginais de vários naipes, todos geralmente misturados, pois não há divisão para criminosos específicos, eles não encontram outra perspectiva a não ser potencializar a criminalidade que os levou até ali. Por isso que é comum o uso de drogas, muitas vezes até o tráfico destas. As armas também continuam sendo utilizadas, tanto entre os detentos quanto contra os agentes que cuidam da permanência desses indivíduos. Outras violências, como estupros, também são comuns nesses locais. Este último, por exemplo, chegou a ser ordenado no Maranhão por detentos, para que, fora da cadeia, seus emissários pudessem violentar as esposas dos seus rivais. Todo esse poder dos criminosos emana da falta de poder da segurança pública. Se os primeiros conseguem armas, drogas, munições, celulares e outros apetrechos, é porque o segundo, ou seja, a polícia, ou facilita a entrada disso, ou, mal aparelhada, não consegue conter a entrada. Talvez até as duas coisas.

Enquanto isso nas celas, os atos mais aborígenes do ser humano são despertados, visto que, como não foram condicionados a viver enjaulados, eles acabam despertando a fera oculta nesses locais, ou pior, ordenando crimes de dentro dos próprios presídios, onde se imaginavam que estariam e ficariam presos cumprindo as suas respectivas penas. O exemplo mais famoso do poderio desses criminosos está no lendário PCC (Primeiro Comando da Capital). Quem não recorda de nomes como Fernandinho Beira Mar, o qual já foi considerado como um dos homens mais procurados do país. Ele que, dentro dos presídios vivia como um marajá e continuava a praticar crimes, acionando seus compassas fora dos muros da cadeia. Impotente, a polícia teve que armar um verdadeiro projeto de guerra para desvencilhar o PCC, porém, volta e meia os criminosos se organizam a retornam a exercer seu poder e envergonhar a frágil segurança pública. Mais impotente ainda está à população, a qual, no meio desse fogo cruzado, paga as duras penas disso tudo, muitas vezes com a vida, como no caso da inocente Ana Clara.

Os caminhos para solucionar esse problema são antigos e bem conhecidos e se resumem em uma palavra: investimento. Investir numa polícia preparada dentro e fora do sistema prisional. Investir em cadeias seguras e, pelo menos, mais dignas onde o detento possa pagar pelos seus crimes como humano, não se tornando mais um dos muitos animais soltos por ai. Investir e assegurar que o dinheiro seja bem direcionado. Para isso, basta focar nas prioridades do país e não gastar milhões com futilidades passageiras que pouco trazem de benefício para a sociedade. Se, antes da copa do mundo deste ano, não conseguimos proteger os meros cidadãos brasileiros dos atos de violência que envergonham a nação, como protegeremos os turistas tão aguardados? É incoerente investi cifras milionárias para assegurar o bem estar de turistas, que passarão uma breve estada por aqui, enquanto o cidadão de fato brasileiro serve de alvo para criminosos inescrupulosos que a todo o momento estampam as manchetes policiais por mais um crime cometido.

Na realidade, no Brasil tudo se resumi a pó. O pó das drogas inaladas. O pó da pólvora engatilhada. O pó das vidas desperdiçadas. Reduzi o ser humano à poeira se tornou algo banal. É como fumar um cigarro e esperar que a nicotina vire cinzas. Tudo isso porque não somos capazes de combater, com ímpeto, essa criminalidade que ceifa vidas e desperdiça as verbas públicas a cada crime cometido, a cada rebelião, na qual camas, colchões, etc., são queimados e, com o dinheiro público, repostos. Seja como for, por causa desses descasos, livres ou não, os bandidos ainda tem voz e vez neste país, intimidando civis, ao ponto deles viverem à mercê da violência. Mesmo sabendo que a violência não vai acabar da noite para o dia, não podemos simplesmente chorar a morte daquela menina e de tantos outros inocentes e depois virá à página. Essa história só vai ter o final feliz quando a morte humana deixar de ser tirada abruptamente e continuar a ser como diz o famoso mandamento bíblico: “Viestes do pó e ao pó retornarás (Gênesis 3.19)”, e não reduzida a farelo humano por uma criminalidade que poderia ser contida, se houvesse mais empenho para isso.


S CARAS DE PAU DO VESTIBULAR.
A MELHOR EQUIPE DA NOVA GERAÇÃO DE PRÉ-VESTIBULARES!

MATRÍCULAS ABERTAS!

TURMAS PRÉ ENEM


TURMA MANHÃ- DE SEGUNDA A SÁBADO DE 08:00 ÀS 12:00, MENSALIDADE POR 140,00 REAIS.
TURMA TARDE- DE SEGUNDA A SEXTA DE 14:00 ÀS 18:00 E SÁBADO DE 08:00 ÀS 12:00, MENSALIDADE POR 140,00 REAIS.
TURMA NOITE- DE SEGUNDA A SEXTA DE 18:30 ÀS 22:00, MENSALIDADE POR 120,00.
MATRÍCULA- 100,00.
TURMA PRÉ-IFPE (9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL OU ANTIGA 8º SÉRIE).
SÁBADOS DE 08:00 ÀS 13:00, MENSALIDADE POR 85,00 REAIS.


MATRÍCULA- 50,00.

INÍCIO DAS MATRÍCULAS: 03 DE JANEIRO DE 2014 EM HORÁRIO COMERCIAL, ( 08:00 ÀS 17:00).
INÍCIO DAS AULAS: 03 DE FEVEREIRO DE 2013.
LOCAL- COLÉGIO ALPHA, RUA CORREDOR DO BISPO, POR TRÁS DO SHOPPING BOA VISTA/ PRÉDIO NOVO.

DOCUMENTOS PARA REALIZAÇÃO DA MATRÍCULA: XERXO DO RG, XEROX DO COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA, DUAS FOTOS 3X4.



OBS: ESTE ANO DE 2014 SÓ PODERÁ SER FEITA A MATRÍCULA POR ALUNOS MAIORES DE IDADE OU POR UM ADULTO RESPONSÁVEL

VAMOS DOMINAR O MUNDO!

CONTATOS: 081 88127038/ 98745145/ 32221161.